
Por trás de olhos de vidro e pele de silicone pintada à mão, uma nova febre nas redes sociais expõe um fenômeno inquietante: a substituição simbólica da maternidade real por bonecos hiper-realistas. Os chamados ‘bebês reborn’, que reapareceram com força nas últimas semanas após a influenciadora Gracyanne Barbosa apresentar seu “filho” Benício ao público. O fato está no centro de um debate que mistura afeto, solidão, carência emocional e, claro, muita polêmica.
Na publicação que causou alvoroço, Gracyanne se declarou ao boneco e afirmou:
“Meu sonho é ter um filho. Podem me julgar”.
E foi julgada. O gesto dividiu opiniões. Se por um lado há quem encare a prática como inofensiva — até terapêutica —, por outro há quem enxergue um vazio emocional mascarado por um simulacro de maternidade, transformado em espetáculo digital. “Tanta criança abandonada precisando de um lar”, apontou uma seguidora, resumindo o incômodo de quem vê na adoção uma solução mais nobre para o desejo de maternar.
Mas não é só sobre Gracyanne. Bonecos que custam até R$ 10 mil, vendidos com enxoval, chupeta e até certidão de nascimento, são agora tratados como filhos legítimos por algumas colecionadoras, que postam vídeos embalando, amamentando e até levando os bonecos ao pediatra — tudo diante de milhares de seguidores.
Os defensores alegam que o reborn tem uso terapêutico, especialmente para mulheres que sofreram perdas gestacionais ou vivem com quadros de depressão ou ansiedade. Mas até que ponto essa prática acolhe — e em que ponto ela passa a reforçar ilusões perigosas de substituição emocional?
A linha entre terapia e escapismo é tênue. E o problema se agrava quando o gesto privado se torna conteúdo para redes sociais, embalado por likes e algoritmos que recompensam o estranho, o polêmico, o performático. Estamos diante de uma nova mercantilização da dor e do desejo? Ou apenas vendo os desdobramentos extremos de um mundo cada vez mais solitário e digitalizado?
Mais do que julgar, é hora de refletir. Porque se o bebê reborn virou companhia, alívio ou até válvula de escape para algumas pessoas, talvez o que esteja gritando por trás de tudo isso seja algo muito maior: a falta de vínculos reais em um mundo que empurra as relações para o artificial. Até onde vai a carência? E até quando vamos continuar confundindo afeto com encenação?
Ou será que é apenas por puro espetáculo e likes? O que você acha?