Há pouco menos de dois anos, Campo Grande foi cenário de um crime brutal, que reforçou a importância da atenção, do cuidado e da proteção às crianças.
Com repercussão nacional, o ‘Caso Sophia’, como ficou conhecido, veio à tona em 26 de janeiro de 2023, quando a criança, à época com 2 anos e 7 meses de idade, chegou nos braços, já sem vida, na UPA do Bairro Coronel Antonino, em Campo Grande.
Após investigações, a mãe, Sthefanie de Jesus e o padrasto, Christian Campoçano Leitheim, foram apontados como autores de um crime com requintes de crueldade. A criança foi totrturada e violentada repetidamente durante o curto tempo de vida.
Nos últimos dois dias, as atenções se voltaram ao Tribunal do Júri, na Capital, onde ocorreu o julgamento dos acusados. Entre vídeos que mostraram aos jurados a gravidade do caso, depoimentos e acusações, houve a condenação da mãe e do padrasto.
Com total atenção ao caso, a equipe de reportagem do site A Onça cobriu cada detalhe do julgamento e compartilhou as informações com o Comunica na TV conforme os detalhes a seguir .
Condenação – Na noite desta quinta-feira (05) Christian Campoçano Leitheim, o padrasto da pequena Sophia Ocampos de Jesus, foi condenado a 32 anos de prisão, sendo 20 pelo crime de homicídio doloso e 12 por estupro. Já a mãe da criança, Stephanie, foi condenada a 20 anos por omissão e por permitir o assassinato da menina.
O julgamento, que ocorreu no Tribunal do Júri de Campo Grande, foi marcado por dois dias intensos, durante os quais os jurados ouviram diversas testemunhas da acusação, bem como as argumentações dos advogados de defesa e do Ministério Público.
Com uma voz calma e sem demonstrar exaltação, o padrasto da vítima negou as acusações de que agrediu a menina, desafiando as alegações que surgiram durante o processo. “Eu não dava banho nas crianças, só na Estela (caçula e filha do acusado), pois a Sophia e o Yuri já tomavam banho sozinhos. Eu só lavava o cabelo. Nunca tive intenção nenhuma de fazer tal coisa, eu não queria trocar fralda da Sophia e nem dar banho. Justamente para não falarem isso, porque eu não sou o pai dela”, afirmou Christian, dirigindo-se ao júri composto por três mulheres e quatro homens. Sua declaração foi marcada por uma frieza que chamou a atenção de todos os presentes.
Embora tenha reconhecido que em algumas ocasiões ‘corrigiu’ a criança, confessando ter agredido Sophia, Christian se defendeu ao afirmar que não era uma pessoa violenta. Ele também negou qualquer tipo de abuso físico ou psicológico, tanto contra Sophia quanto contra sua mãe, Sthefanie de Jesus.
Christian relatou ao juiz Aluízio de Oliveira que no dia anterior à morte de Sophia, a menina apresentou sintomas de febre. “Ela teve um momento de febre quando eu dei o analgésico pra ela e depois ela vomitou. Eu avisei a Sthefanie que a Sophia estava passando mal, porque tinha uma UBS na frente de casa, mas como uma vez que eu fui levar ela, me barraram por não ter grau de parentesco e dessa vez eu nem tentei”, explicou.
Já Sthefanie de Jesus, alegou em depoimento revelou que começou a desconfiar do comportamento de Christian quando Sophia passou a chorar mais do que o normal e a demonstrar medo excessivo. Sophia chamava Christian de “papai” e dizia que ele era bravo, o que aumentou as suspeitas de Stephanie de que algo estava errado.
A mulher explicou que, apesar de ter conhecimento dos maus-tratos e das ameaças, sentia-se impotente para procurar ajuda devido à intensidade das ameaças de Christian. Ele a sufocava e a ameaçava constantemente, o que a fez temer pela segurança de seus filhos.
Ao ser questionada sobre sua incapacidade de romper a relação devido ao medo, Stephanie afirmou que não era o medo de romper o relacionamento que a impedia, mas o temor do que Christian poderia fazer a ela e aos filhos. Se dizendo arrependida, Stephanie disse que preferia estar no lugar de sua filha falecida. “Eu queria que fosse eu hoje, debaixo da terra, do que a minha filha. Mil vezes,” desabafou.
A promotora Lívia Carla Guadagnari destacou que, apesar de Stephanie relatar os abusos e maus-tratos, ela não tomou nenhuma ação para proteger sua filha, o que, na visão do Ministério Público, caracteriza omissão na prática do delito. A promotora questionou Stephanie sobre sua calma aparente durante o trajeto de Uber até a UPA, onde Sophia foi levada já sem vida. Stephanie respondeu que, embora não estivesse gritando, estava desesperada e aflita, realizando massagem cardíaca e respiração boca a boca na filha durante o percurso.
Stephanie também foi questionada sobre o uso de drogas e álcool em sua residência. Ela admitiu que havia consumo de bebidas alcoólicas e drogas, mas afirmou que ‘fingia usar drogas’ para evitar problemas. O depoimento da mulher trouxe à tona um cenário de medo, controle e violência que a defesa afirmou ter marcado sua relação com Christian.
O crime – O laudo de necropsia, emitido pelo Instituto de Medicina e Odontologia Legal (IMOL), indicou que a causa da morte da criança foi traumatismo na coluna cervical e confirmou que Sophia havia sido estuprada. A declaração de óbito detalha que o trauma na coluna evoluiu para o acúmulo de sangue entre o pulmão e a parede torácica, além de mencionar que a menina sofreu “violência sexual não recente”.
*Conteúdo elaborado com reportagem do site A Onça, onde há mais detalhes sobre o julgamento